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    sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

    Ângelo Gaspar Martins

    Porto. 19 de Abril de 1930. Defesa.
    Épocas no Benfica: 13 (52/65). 

    Jogos: 284. Golos: 4. 
    Títulos: 7 (Campeonato Nacional), 5 (Taças de Portugal) e 2 (Taças dos Campeões).
    Outros Clubes: Académico do Porto. Internacionalizações: 20.

     


    Do prelo de Ângelo Martins saíram algumas das melhores criações do Benfica. Ele era um burilador de diamantes, criador de craques. Mostrou sempre cartão vermelho à incompetência. As suas impressões digitais podiam ver-se em Humberto Coelho ou Nené, Alves ou Jordão, Artur ou Shéu, Vítor Martins ou Chalana. E tantos, tantos outros. Se benficómetro houvesse, atingiria o limite dessa ardência que vida fora o acompanhou. Ele foi também jogador brioso, na combinação da técnica com a velocidade, da força com a resistência. Ele que ganhou todas as competições possíveis a nível de clubes. Todas? “Excepção feita à Taça Intercontinental, que se me escapou, para mal dos meus pecados”, confessa, assim como quem pede remissão.

    O pai era sapateiro, numa travessa das Antas. Ângelo caracterizava-se por uma irrequietude sem limites e pelo apego à trapeira. Já exibia dotes apreciáveis, quando gritava “sou do Benfica”, sempre que o confrontavam com a hipótese de fazer carreira no FC Porto. Ainda garoto, jogou no Académico. Três anos depois do debute seria irradiado. Funcionou a cruel justiça federativa, já que havia assinado duas fichas, uma pelo Académico e outra pelo FC Porto. “Foi um dirigente portista que me enganou, dizendo que tinha tudo tratado com o meu clube”. Ingénuo foi.

    Já não sonhava com os terraços da bola, quando cumpria serviço militar em Santarém. Tinha 20 anos, mas dele se falava ainda. O Benfica manifestou interesse em recrutá-lo, comprometendo-se a diligenciar o levantamento da irradiação. Demorou alguns meses, mas as instâncias superiores condescenderam. Era jogador do Benfica, do clube da sua devoção.

    Na época de 52/53, provou que jamais poderia ser um dissidente dos jogo, ao lado de Artur, Moreira, Caiado, Rogério, Félix, Arsénio, Águas e Corona. Com esse e outros companheiros muito contribuiu para por termo ao reinado dos Cinco Violinos do Sporting. A tarefa foi árdua, mas a soma de onze indómitas vontades, domingo a domingo, a tanto conduziu. E esse Benfica, o Benfica dos anos 50, lançavam as sementes que germinariam na década seguinte, a década da glória, do mítico clube da águia.

    “Como espero jogar ainda muitos anos, é possível que possa enriquecer bastante o meu álbum”, dizia Ângelo, em 1957. Premonitoriamente. Aprendeu muito com Otto Glória, mas com Bela Guttmann chegaria ao cume. Era já lateral, sobretudo na faixa canhota, ele que havia começado a médio, quase indistintamente à direita ou à esquerda. “Rompe-se todo e morde a relva em sinal de alegria ou de desespero”, retratavam-no à época.

    Foi bicampeão da Europa, venceu sete Campeonatos e cinco Taças de Portugal. Despediu-se em Guimarães, frente ao Vitória local, em Maio de 1965, após 13 temporadas consecutivas no Benfica.
    A dedicação ao clube, o irreplicável profissionalismo e os conhecimentos adquiridos conduziram-no à estrutura técnica do futebol juvenil. Montou a sua oficina com o jeito dos predestinados, deu-lhe o cunho dos dotados, o prazer dos apaixonados e a glória dos jubilados. Venceu sete Campeonatos Nacionais de juniores, seis de juvenis e dois de iniciados.


    A loja do mestre Ângelo fabricou talentos em série, passe o contraditório. “Claro que sinto um enorme orgulho por ter trabalhado com muitos miúdos que garantiram um lugar ao sol no panorama do futebol português e até internacional. Não se pense, porém, que o mérito foi meu. Muitos contribuíram, desde logo eles próprios, mas é o Benfica e só o Benfica a justificar os louros”.


    As camisolas berrantes das últimas gerações devem muito a Ângelo. Ao seu exemplo. Ao seu esforço. À sua competência. Por isso também garantiu um lugar cativo, lugar destacado, na historiografia benfiquista.

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