A 20 de Julho de 1988, o FC Porto treinava sem Mlynarczyk e cruzou-se com o belga em Milão. Convidou-o mas este disse não. E lá entrou Baía.
Verão de 1988. Enquanto o Sporting procura treinador (Manuel José vetado por dirigentes e um abaixo-assinado com seis mil assinaturas, Raul Águas equacionado e, por fim, Pedro Rocha apresentado) e contrata o excêntrico guarda-redes uruguaio Rodolfo Rodríguez, estala o verniz no designado Pacto dos Cavalheiros, com o FC Porto a sacar o central Dito e o avançado Rui Águas ao Benfica. É tempo de bate-boca presidencial, entre Pinto da Costa e João Santos. Quando já só restam estilhaços desse diálogo de cavalheiros, o FC Porto começa a pré-época sem o guarda-redes polaco Mlynarczyk, incomunicável, ninguém sabe onde. Passa um dia, dois... uma semana, duas. A situação é insustentável. Quinito, o treinador, olha para o lado e só tem Zé Beto como alternativa a Mlynarczyk, mais um miúdo verdinho dos juniores chamado Vítor Baía.
É aí que se dá o encontro entre dirigentes do FC Porto e do Malines, no aeroporto de Milão. A 20 de Julho de 1988, Pinto da Costa e companhia falam com Michel Preud'homme e convidam-no para assinar pelo FC Porto. Ali mesmo, no Aeroporto Malpensa, nas barbas do Malines. O belga agradece a atenção mas recusa. Um jornalista do "Gazzetta dello Sport" fala com Preud'homme. "Foi engraçado este assalto ao aeroporto mas não vou para lado nenhum. Fico no Malines, onde estou bem."
Afinal, Preud'homme é o titular da baliza do vencedor da Taça das Taças desse ano (1-0 ao Ajax) e do futuro campeão da Supertaça Europeia. O FC Porto ouve o "não" e arrepia caminho, resignado. Dias mais tarde, lá aparece Mlynarczyk, que (coisas do destino) se lesiona na clavícula durante um treino em Setembro e volta a deixar o FC Porto à guarda de Zé Beto. Mas só até Fevereiro. Porque aí Artur Jorge aposta em Vítor Baía. E o resto é o que a gente sabe. Sobre Baía, o homem dos 29 títulos. E sobre Preud'homme, o homem que pediu à FIFA para usar óculos escuros durante os jogos do Mundial-90, em Itália, devido ao sol. O homem que deixou todo um país (o português) de boca aberta. Não pela nega ao FC Porto em 1988 mas sim pela regularidade exibicional no Benfica, entre 1994 e 1999.
O primeiro guarda-redes estrangeiro no Benfica e a única excelente contratação do Benfica no reinado de Artur Jorge. No Verão de 1994, o internacional belga chegou a Lisboa com o título de melhor guarda-redes do Mundial dos EUA, atribuído pela FIFA (prémio Yashine). Tinha 35 anos e nem esse factor causou desconfiança. Era completo. Elástico, seguro, reflexos apuradíssimos e profissional. Antes de qualquer jogo, costumava visitar o estádio para ver as condições do relvado, as balizas...
Esteve na Luz cinco épocas e só ganhou uma Taça de Portugal (3-1 ao Sporting, na célebre final do verylight em 1996). Mais importante que os títulos, Preud'homme saiu pela porta grande: respeitado e admirado por todos, desde companheiros a adversários, passando por adeptos e jornalistas. Um homem completo. Bem... para o FC Porto não o terá sido naquele fim de manhã de 20 de Julho de 1988.
in conversas da bola
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