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    quinta-feira, 1 de julho de 2010

    Alberto da Costa Pereira

    Nacala, Moçambique. 22 de Dezembro de 1929. Guarda-redes.
    Épocas no Benfica: 13 (54/67). Jogos: 358. 
    Títulos: 7 (Campeonato Nacional), 4 (Taça de Portugal) e 2 (Taça dos Campeões).
    Outros clubes: Sporting de Lourenço Marques e Ferroviário de Lourenço Marques. 
    Internacionalizações: 22.



     

    Poucos terão sido tão desportivamente ecléticos, na primeira e sempre mais fascinante parte vida, como Alberto Costa Pereira. O basquetebol, a vela, o atletismo e o futebol foram as modalidades a que se entregou, sempre com denodo, o jovem moçambicano, natural de Nacala, uma pequena povoação muito quilómetros a norte da então Lourenço Marques. Já em Nampula, para onde se transferiu o pai, funcionário dos caminhos de ferro, o jovem Alberto derretia-se sempre que falava em dois jogadores: João Azevedo, do Sporting, e o brasileiro Ademir, por Queixada conhecido, do Vasco da Gama, o mais português dos clubes da “pátria da chuteira”, como um dia Chico Buarque, escreveu.

    Primaveras 15, Costa Pereira chegou à actual Maputo, sufocado pela dor da morte do irmão mais velho. Internado no Instituto de Portugal ficaria. Começou a recordar-se da arte de encestar, corpulento e alto era, por isso dotado para basquetebolista. Pela mocidade fez-se também praticante de vela, desafiando as águas sem temor. No atletismo, então, sublimou-se, recordista moçambicano acabaria por ser no… lançamento de peso.
    Tal como alguns anos mais tarde Eusébio, o Sporting de Lourenço Marques, no escalão júnior, propiciou que se federasse. Era o tempo de sonho (avançado-centro) e da vocação (guarda-redes). Mais alto falou o sonho. Na dianteira jogava. “Quem sabe o que o futebol perdeu com a minha passagem a keeper? Talvez fosse hoje um avançado como me dizem ter sido o Soeiro, que eu não vi jogar, mas que me afirmam levava tudo na sua frente, graças ao poder físico que possuía”. Assim falou, um dia, Costa Pereira, baluarte já da máquina pulverizadora benfiquista.

    De candeias às avessas com a filial laurentina do Sporting, que o impediu de jogar basquetebol no Ferroviário, precipitou a jura, segundo a qual, verde nunca mais. Curto hiato na disciplina futebol, que a precognição de Severiano Correia não tardou. Com aquelas mãos, tenazes mais pareciam, e aquela facilidade com que se elevava a um qualquer andar de cima, disse-lhe o então treinador de futebol do Ferroviário que a guarda-redes botaria figura. Assim foi.

    À capital chegou, após longa viagem de barco, no Verão de 54, com destino ao Benfica. A equipa ardia por novas sagas, apelava à ressurreição, tão prolongado estava sendo o reinado do leão por obra e graça dos seus Violinos. Com Mário Coluna também a debutar, mais Jacinto, Artur, Águas, Caiado, Calado e Ângelo, reconquistado foi o velho brasão.

    Só que nem por isso fez Costa Pereira unanimidade. O seu jeito basquetebolizado de a baliza defender causou facturas nas apreciações dos benfiquistas e da critica especializada. Para uns, Costa Pereira; para outros, José Bastos. Tão diferentes, mas tão do (des)agrado popular. Foi assim durante três anos. Até que, finalmente, atingiu o altar reverencial.

    Foi também com Costa Pereira que o Benfica siderou a Europa. “Aquele guarda-redes que era o protótipo da elegância, fino nos movimentos, surpreendente na destreza”, assim o via o jornalista Aurélio Márcio. Na primeira final dos Campeões, períodos houve em que os vermelhos quase submergiam ao poderio do Barcelona. Valeu Costa Pereira mais a sua exibição substantiva. No ano seguinte, ainda que três vezes batido por Puskas, susteve outros ímpetos atacantes do Real Madrid, deixando que Eusébio, lá ao fundo e no fundo também, o resto fizesse. Era bicampeão europeu.

    No quarto grande empreendimento internacional, desperdiçado que foi, pelo meio, um desvairante tri, frente ao AC Milan, com o Benfica cruzaria destino outra formação italiana, o Inter, na conclusão da temporada 64/65. Noite de calamidade para Costa Pereira. O único golo, apontado pelo brasileiro Jair, teve menos arte do autor e mais, bem mais, imperícia de quem o sofreu. Nessa altura, apeteceu-lhe zarpar do jogo. Foi até o que sucedeu, dez minutos após o reatamento, acusando lesão antiga. Ele que animicamente estava tem-te-não-cais. A Lisboa chegou, duplamente derrotado, em cadeira de rodas. Com a auto-estima a vaguear pelas ruas da amargura.

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