Pedimos a Vasco Mendonça que puxasse o filme atrás e recuperasse no fio da memória quais os piores jogadores que já viu no seu Glorioso. E foram estes
Freddy Adu
Até
hoje continuamos a tentar perceber se a culpa foi do championship
manager, de vários olheiros com cataratas, da internet, ou se tudo não
passou de uma brilhante jogada de marketing que nos enganou a todos.
Sim, a você também. O ano é 2006. O Youtube existe há cerca de 1 ano. Os
primeiros vídeos de gatos começam a ser carregados para a plataforma e
tudo corre bem. Ouvimos falar de um jogador norte-americano, muito
novinho mas incrivelmente talentoso. Os vídeos não mentem. Freddy Adu é o
nome. Bola coladinha ao pé, dono de um sprint muito respeitável, e tão
novinho que até assusta. O céu é o limite.
Era ver aquele talento
prodigioso a ultrapassar adversários como se fossem pinos, desde
relvados de futebol semi-amador a campos de futebol americano. 11 anos
mais tarde, o mundo questiona-se: seriam de facto pinos? O que sabemos
hoje é que Freddy Adu passou pelas instalações do Benfica numa fase da
sua carreira em que, sinceramente, já fazia lembrar os Guano Apes a
tocarem numa semana académica. Notável para alguém que chegou a Portugal
com apenas 19 anos. Desta feita via-se ali talento, não para o futebol
mas para constar de um texto como este. 11 jogos miseráveis e 2 golos
depois, ainda contratualmente ligado ao Benfica, Freddy Adu terá
descoberto a sua verdadeira paixão: viajar. Foi assim que ao longo dos 9
anos seguintes o nosso Freddy passou por França, Grécia, Turquia,
regressou aos EUA, esteve no Brasil, na Sérvia e na Finlândia. E isto se
falarmos apenas de contratos de trabalho. Fez tudo isto antes dos 30
anos de idade e antes de voltar aos EUA, onde infelizmente a modalidade
evoluiu ao ponto de tornar evidente que Freddy Adu não é nem nunca foi
grande futebolista. Moral da história? Não acreditem em tudo o que vêem
na internet.
Mostovoi
Anos houve no
Benfica em que, por muito bom que se fosse, nem o talento poderia salvar
os jogadores (e os adeptos) da desilusão. Aleksandr Mostovoi chegou ao
Benfica para prolongar a linhagem russa no Benfica. Não que esta tenha
produzido resultados épicos, mas Yuran e Kulkov chegaram a ser
importantes. Ora, Aleksandr Mostovoi chegara com fama de ser tão bom ou
melhor que estes dois. 9 jogos e uma época depois, a presença de
Mostovoi no plantel fazia tanto sentido quanto chamarmos russa a uma
pilha de batatas, cenouras e ervilhas coberta de maionese.
Pior
contratação porque não deu em nada, melhor porque, de todos os flops
benfiquistas, quase nenhum outro foi tão bem sucedido após sair do clube
- excepção feita a Mario Static, que também se veio a descobrir, depois
de abandonar o clube, ser um bom jogador de futebol. Mostovoi é hoje
conhecido em Espanha como o Príncipe de Vigo, um jogador cerebral e
aguerrido como como poucos que voltaria a aparecer no radar do Benfica,
desta vez como um dos principais autores de uma goleada histórica, o 7-1
do Celta ao Benfica. Fez um golo e três assistências, e só não fez mais
porque felizmente um jogo de futebol dura 90 minutos.
Karadas
Cepos
houve muitos, mas só um poderia ter competido com Ivica Kralj pelo nome
da nossa página de Facebook. Azar Karadas. A tentação da piada fácil
poderia levar-nos a resumir este cromo simplesmente ao seu primeiro e
último nome, mas seria injusto, não apenas porque diminuiria o jogador,
mas ainda porque não nos daria pretexto para nomear o seu tio e
empresário: Jack Karadas. Azar foi contratado pelo Benfica após uma
alegada exibição vistosa ao serviço do Rosenborg, numa noite gélida
quase tao difícil de explicar quanto o caso Camarate. Treinado por
Giovanni Trapatonni, Azar Karadas viria a marcar 4 golos importantes num
dos campeonatos mais atípicos da história do futebol, que terminaria
com Bruno Aguiar e Simão Sabrosa em cuecas num balneário do Bessa a
ouvir música num iPod.
Anos mais tarde, encontrou a felicidade no
centro da defesa do Kasimpasa, clube turco em que alguns de nós teriam
lugar como avançados. Em 2010, já refeito da sua carreira, Karadas
confessou à imprensa portuguesa que nunca devia ter jogado como
avançado, uma afirmação que faria mais sentido se lhe retirássemos as
palavras "como" e "avançado".
Felipe Menezes / Djuricic
Um
brasileiro, o outro sérvio, o mesmo talento desperdiçado, a mesma
irritação causada aos adeptos. Infelizmente nunca jogaram juntos. Teria
sido uma espécie de acontecimento científico desse ano, um abrandamento
de partículas nunca antes visto. Em comum têm duas coisas. Chegaram
ambos ao Benfica rotulados de craques. Um chegou como craque brasileiro,
aquele selo de qualidade que nunca nos desiludiu. O outro chegou como
craque sérvio numa altura em que qualquer pessoa natural desse país
seria bem recebida na Luz, eventualmente até com um contrato de trabalho
à sua espera (vide irmãos de Matic e Markovic). Para além disso,
jogavam ambos com aquele ar de enjoadinho, como se ninguém desde os
infantis lhes tivesse explicado que é preciso correr ou que a bola não é
só para eles. Desculpem lá, amiguinhos.
Fabrice Alcebiades Maieco
Não
tem nome de futebolista, o que talvez explique os contornos da sua
passagem pelo Benfica. Fabrica Alcebiades Maieco é Akwá, o segundo maior
equívoco em que julgámos ter encontrado um novo Eusébio. Akwá tem no
entanto uma enorme vantagem face a Pedro Mantorras: dois joelhos
operacionais. Tirando isso, os talentos de um e outro nunca foram
comparáveis. Mantorras era repentino. Akwá dava pena. Mantorras era
veloz. Akwá era atroz. Mantorras irradiava alegria em campo. Akwá devia
ter sido irradiado. Mantorras era fortíssimo nos lances individuais,
Akwá era fraquíssimo em qualquer colectivo. Mantorras foi avaliado em 18
milhões de contos, Akwá foi avaliado em 18 milhões de kwanzas. Enfim.
Akwá mal jogou no Benfica, felizmente, e a grande verdade é que nenhum
deles foi o novo Eusébio, até porque o Rei era moçambicano e estes dois
são angolanos, o que acaba por ser um bocadinho racista da vossa parte.
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