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    segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

    [Destino] Donizete: «Continuo a ser um benfiquista da porra»

    Chegou com o estatuto de craque, mas saiu pela porta pequena ao fim de pouco mais de cinco meses para esquecer no Benfica. Vinte anos depois, Donizete fala em «ciúmes» e «vaidade», mas lamenta ter ficado tão pouco tempo na Luz






    DONIZETE: Benfica (1996/97) 


    Esteve apenas meia temporada no Benfica, em 1996/97, um ano horribilis para o clube da Luz, que começou a época com uma derrota histórica diante do Porto em pleno Estádio da Luz (0-5), na segunda mão da Supertaça Cândido de Oliveira. Um jogo que marcou o plantel e condenou toda uma temporada. Donizete fala em «falta de união», em «ciúmes» e «vaidade», mas lamenta não ter ficado mais tempo no Benfica. 


    Chegou com o estatuto de «craque», abrilhantado pelo facto de ter alcunha de, tal como Eusébio, «Pantera Negra», pela forma como festejava os golos, com as mãos em forma de garras, numa altura em que era chamado com frequência à seleção do Brasil. Chegou a encantar, formando dupla no ataque com João Vieira Pinto, mas acabou submergido na crescente contestação à direção de Manuel Damásio e ao treinador Paulo Autuori. Saiu do clube, pouco mais de cinco meses depois, no início de 1997, com o treinador, apontado como um dos muitos problemas que o Benfica tinha no balneário. 


    «Não deu certo porque o grupo estava muito desunido. Isso atrapalhava muito, não só a equipa, mas atrapalhava também os jogadores que se queriam projetar. O Benfica tinha um grande plantel, tinha grandes jogadores, tinha jogadores de seleções, o João Pinto, o Panduru, o Valdo, o Preud’homme, mas faltava união», começa por recordar Donizete, desde o Rio de Janeiro, agora com 47 anos. 


    A verdade é que a expetativa que se criou na pré-temporada, com a chegada de muitos reforços, desmoronou-se em dois tempos, com a disputa da Supertaça, na altura disputada em duas mãos. Depois de uma derrota pela margem mínima no Estádio das Antas, com um golo solitário de Domingos, o Benfica afundou-se em plena Luz, com uma goleada por 0-5 que deixou marcas. Donizete foi titular e jogou os 90 minutos. «Esse jogo deixou o time muito chateado, muito triste. Quando se perde, todos os jogadores brigam, apontam o dedo uns aos outros: não devias ter feito isto ou aquilo. Quando se ganha, é ao contrário, fica tudo bem», destacou. 



    O segundo jogo, no Estádio da Luz, foi disputado um mês depois do primeiro. O Benfica estava outra vez com a moral em alta, com dez golos marcados nos dois jogos anteriores, com goleadas ao Ruch Chorzów (5-1), na extinta Taça das Taças, com um golo de Donizete, e ao V. Setúbal (5-1). Depois veio o FC Porto. «Perder em casa por 0-5 já era mau, ainda mais perder para o grande rival do Benfica. É como aqui [no Brasil] o Cortinthians perder para o Palmeiras ou o Flamengo para o Vasco. Muito mau», recordou. 


    Os problemas começaram aqui. «O problema não era meu, o problema é que cada um queria ser melhor do que o outro, havia muita competição entre os lideres. O que aconteceu foi pela vaidade dos jogadores. Senti que eles ficavam chateados. Como estava na seleção, ia e voltava muitas vezes e o grupo não estava fechado, sentia que havia ciúmes. Uns ficavam chateados outros não, mas não havia união no grupo», recorda. 



    Donizete ainda arrancou bons jogos e, até ao final de outubro, marcou oito golos, mas mesmo a relação com o João Pinto teve altos e baixos, segundo contam os jornais da altura. «Formei uma dupla com o João Pinto que era o líder do grupo, junto com o Valdo. Na altura falavam que tinha problemas com o João Pinto, mas não é verdade, o João Pinto era um grande amigo, nunca tive problemas com ele», referiu. 


    O problema não era apenas com Donizete, havia de facto um problema de balneário que, segundo conta o nosso entrevistado, estava mesmo dividido. «Tinha muita vaidade, muito ciúme, fiquei muito chateado com isso. Senti que podia e queria ter dado muito mais ao Benfica. Hoje lamento ter saído tão cedo. Queria ter ficado mais tempo, queria ter feito história no clube», prosseguiu. 


    Os casos multiplicaram-se, Paulo Autuori saiu e, pouco depois, Donizete seguiu-lhe as pisadas. A situação no balneário tinha ficado insustentável. «O ano do Benfica também foi difícil. Havia uma forte contestação à direção, muita gente queria que o presidente [Manuel Damásio] saísse, não era fácil. O ambiente não estava bom, falei com o treinador, Paulo Autuori e, quando ele saiu, saí junto com ele». 



    Donizete foi, numa primeira fase, emprestado ao Tenerife, depois ao Flamego que acabou por comprar o seu passe a título definitivo. Uma decisão que o jogador lamenta até aos dias de hoje. Foi apenas uma temporada, mas Donizete não esquece a sua passagem pela Luz. «Não posso esquecer, tenho aqui um poster na parede com a equipa do Benfica. Tenho as camisolas que usei naquela altura e continuo a ser um benfiquista da porra. Estou sempre a ver os jogos. O Benfica agora está bem, está a jogar bem, tem uma grande equipa. Tem o Luisão e tem o meu grande amigo Júlio César na baliza», destacou. 


    Sim, apesar de ter saído pela porta pequena, Donizete garante que manteve sempre uma relação especial com o clube da Luz e diz que nunca conheceu uma claque como aquela que o Benfica tinha no final dos anos noventa. «Gosto muito do Benfica, sempre gostei, um clube muito organizado, o ideal para um jogador se projetar. Arrependi-me muito de ter saído do Benfica da forma como saí. Se fosse hoje, tinha ficado mais tempo. Adorava aquela torcida, é melhor torcida que conheci enquanto jogador profissional, muito legal, sempre apoiando. Fui muito bem recebido e sempre me trataram com muito carinho. Nunca tive problemas com os adeptos, pelo contrário, sempre me trataram bem», recorda. 


    A verdade é que Donizete também teve bons momentos. Marcou nove golos e há um que não esquece. Pelo menos o que a memória de vinte anos permite manter. «Já foi há muitos anos, mas não esqueço um que marquei em Moscovo, só não lembro do nome da equipa adversária…». Lokomotiv? «Isso mesmo!». O lance começa em Nica Panduru, que já tinha marcado um golo nesse jogo, Donizete combina com João Pinto e atira a contar. O Benfica venceu por 3-2 e seguiu para os quartos de final da Taça das Taças, onde acabaria por ser afastado pela Fiorentina de Rui Costa, Schwarz e Batistuta. 




    «O Amaral era muito burro» 


    Mas uma história que Donizete não esquece da sua passagem por Lisboa, foi um episódio que não se cansa de contar até aos dias de hoje. Aconteceu com Amaral, o «coveiro», outro internacional brasileiro que sentiu muitas dificuldades para se adaptar ao futebol português. «Ele não entendia o português falado pelos portugueses, era incrível. Teve de contratar um explicador para aprender e entender os portugueses, mas acho que, na verdade, nunca conseguiu. Eu gozava com ele toda a hora e explicava para ele que era a mesma língua, mas ele não entendia nada. Era muito burro o Amaral. Ainda hoje brinco com ele e conto essa história para os amigos aqui. Andava com um explicador para todo o lado», conta entre gargalhadas. 


    A verdade é que Donizete mantém contato com outros antigos jogadores do Benfica. «Vou conversando com o Valdo, sempre que ele vem aqui no Brasil, também falo com o Mozer, mas gostava de recuperar alguns contatos. Que é feito do Calado? E o João Pinto, o que faz ele agora?», pergunta. 


    Benfica perguntou por Renan, filho de Donizete 


    Donizete, depois de deixar o Benfica, ainda teve uma longa carreira no Brasil, ao mais alto nível. Vestiu as camisolas do Corinthians, Cruzeiro, Botafogo, Palmeiras, Vasco, entre outros, até pendurar as botas em 2006. Ainda tirou o curso de treinador, mas optou por ser empresário, tirando proveito dos contatos que manteve no México onde também jogou. «Vivo aqui no Rio de Janeiro há mais de vinte anos, na mesma casa para onde vim quando deixei o Benfica e faço empresariado para vários jogadores», conta. 


    Uma nova profissão que o levou a ter um contato esporádico com o Benfica. «O meu filho, Renan, joga no Flamengo, com o número dez. Há uns tempos falaram-me do interesse do Benfica, queriam que ele fosse para a formação de lá, mas depois não me chegaram a contatar mais. Não foi para a frente e ele continua no Flamengo», acrescentou ainda. 



    A conversa acabou com Donizete a pedir contatos de empresários em Portugal e a manifestar o desejo de voltar a Lisboa para conhecer o novo Estádio da Luz. «O antigo era incrível, já me falaram que o novo é ainda melhor. Quero conhecer», atirou Donizete, um assumido adepto do Benfica que jogou pouco mais de cinco meses de águia ao peito. 


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