Herói no Vitória Guimarães, o elegante brasileiro foi a figura do mercado de transferências em 1988. Vive em Curitiba e tem uma empresa de construção civil com Nené, outro antigo vitoriano
DESTINO: 80's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80's.
ADEMIR ALCÂNTARA: Vitória Guimarães (1986 a 1988); Benfica (1988 a 1990); Boavista (1990 a 1992); Marítimo (1991 a 1994).
«ADEMIRável», «Mestre Ademir», «Adormir».
Um craque dos anos 80 e 90. Genial na forma como tocava a bola, pés de veludo e sempre de cabeça levantada. Irritante, para os mais sensíveis, pela placidez com que encarava cada jogada, como se fosse nada com ele. Ou não era assim?
«Eu, lento? Não, eu adivinhava tudo antes dos outros, por isso não precisava de correr tanto. Comigo a bola é que corria, sempre redondinha».
Caros leitores, eis o grande Ademir Alcântara. Aos 52 anos encontrámo-lo em Curitiba, afastado do futebol e proprietário de uma empresa de construção civil.
O sócio de Ademir é Nené, outro antigo atleta do Vitória Guimarães (1986-1990), um excelente defesa. É ele, de resto, a atender o telefone ao Maisfutebol.
«Querem falar sobre aquela equipa horrível do Vitória?», pergunta Nené, irónico e brincalhão. «O Ademir está a chegar e já fala com vocês».
Ademir no Vitória Guimarães
OS NÚMEROS DE ADEMIR EM PORTUGAL:
1986/87: Vitória Guimarães, 37 jogos/6 golos (3º lugar)
1987/88: Vitória Guimarães, 42 jogos/17 golos (14º lugar)
1988/89: Benfica, 25 jogos/7 golos (campeão)
1989/90: Benfica, 8 jogos/sem golos (2º lugar)
1990/91: Boavista, 18 jogos/10 golos (4º lugar)
1991/92: Marítimo, 28 jogos/6 golos (7º lugar)
1992/93: Marítimo, 30 jogos/8 golos (5º lugar)
1993/94: Marítimo, 29 jogos/2 golos (5º lugar)
Um golo de Ademir no V. Guimarães ao FC Porto (3m00s):
Ademir adivinha a chamada de Portugal - como se fosse mais um lance no meio-campo - e chega a tempo. Lento nas palavras, desenvolto no raciocínio. 29 anos após a chegada ao nosso país, Ademir continua igual.
«Eu e o Nené conhecemo-nos no aeroporto, em 1986, à ida para Portugal. Somos amigos até hoje».
No Vitória, Ademir faz duas temporadas fabulosas. E golos, muitos golos.
Sem surpresa, mas com muita polémica, transfere-se em 1988 para o Benfica. Sem saber, desenterra o machado de guerra entre os dois rivais.
«Fui para o Benfica porque o Pimenta Machado, presidente do Vitória, me disse que foi esse o primeiro clube a fazer uma proposta. Foi uma confusão! O FC Porto também me queria, insistiu bastante, subiu a parada e o Pimenta já não me queria vender a ninguém».
Ademir acaba mesmo por ir para a Luz, «debaixo de um tumulto». «A minha esposa estava grávida, eu já não sabia o que fazer, e é nessa altura que tudo fica decidido. Foram dias insuportáveis, o senhor Pinto da Costa não ficou nada contente».
O Porto vinga-se e garante Dito e Rui Águas na Luz. As relações ficam tensas, estado de guerra assumido. Mas Ademir não quer falar de coisas más.
«Eu só queria o bem da minha família. Por mim até tinha ido com o Paulinho Cascavel para o Sporting. Nós jogávamos de olhos fechados e a adaptação teria sido mais fácil para ambos».
Benfica-3 Montpellier-1 de 1988 por MemoriaGloriosa
Na Luz, Ademir faz um ano de estreia «muito bom» às ordens de Toni. Tudo muda, porém, com a chegada de Sven-Goran Eriksson.
«Passei a jogar muito menos (oito partidas no campeonato). Ele trouxe três jogadores suecos [n.d.r. Thern, Schwarz e Magnusson], preferia atletas robustos e intensos. Eu, o Elzo e o Lima fomos afastados dos principais planos dele. Temos de respeitar. Não encaixei na ideia de jogo do Eriksson».
Ademir (2º em baixo, a contar da esquerda) no Benfica
O ambiente no balneário também não é perfeito.
«No Vitória a união era total, incrível. No Benfica era cada um por si, um clube de dimensão incrível. Mas fui campeão nacional, não esqueço isso. Só tenho pena de não ter jogado a final da Taça dos Campeões Europeus [derrota por 1-0 em 1990, diante do AC Milan]. Nem convocado fui. Isso sim, foi frustrante».
De cabeça baixa e os níveis de confiança no mínimo, Ademir Alcântara transfere-se para o Boavista e posteriormente para o Marítimo. E volta a ser herói. «Fiz um milagre nos Barreiros!»
«O Marítimo estava a perder 1-2 contra o Boavista, meu anterior clube. Fiz dois golos mesmo no fim, vencemos 3-2 e assegurámos a primeira presença do Marítimo na Taça UEFA. Senti-me enorme, recuperei o meu prestígio».
in MaisFutebol
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