Eusébio não marcou mas fez uma assistência. O jogo terminou 2-2, com o Pantera Negra a recusar-se a marcar um livre, a minutos do fim, contra o seu clube do coração
A 5 de Janeiro de 1977, o SL Benfica deslocou-se a Aveiro para
defrontar o Beira-Mar, em jogo da 12.ª jornada do campeonato nacional,
num jogo muito especial para Eusébio. O “Pantera Negra” tinha
regressado a Portugal para jogar alguns meses pelo clube de Aveiro,
aproveitando a paragem no campeonato norte-americano, e quis o destino
que o maior símbolo dos encarnados defrontasse o seu clube do coração
pela primeira e única vez.
António Sousa, antiga glória do FC Porto e da seleção nacional,
estava a dar os primeiros passos na 1.ª Divisão e jogou ao lado de
Eusébio contra o Benfica. A poucos minutos do fim do jogo, com o
resultado em 2-2, o Beira-Mar teve um livre frontal contra o Benfica.
Eusébio era o habitual marcador de livres mas o coração não deixou.
Sousa foi chamado a converter o livre mas a bola saiu por cima.
«Foi um jogo normal para nós. Naturalmente que para ele não foi
porque Benfica é Benfica e Benfica é o Benfica do Eusébio. O sentimento
dele era enorme e jogar contra a sua equipa do coração e da vida foi
marcante para ele. Porventura o mal-estar dele em relação ao próprio
jogo era porque ele gostava de ganhar e de marcar. São momentos que se
vivem na hora. O facto de o Eusébio não querer marcar um livre e dizer
para eu marcar é sinónimo precisamente disso», lembrou António Sousa ao
SAPO Desporto.
«Não sei o que se passou comigo, mas comecei a tremer com aquelas
camisolas vermelhas todas à minha frente, aquelas caras familiares. E
recusei bater o livre. Passei a bola ao Sousa, que atirou por cima. Esse
episódio foi inesquecível, mas senti-me aliviado pelo Benfica não ter
saído derrotado de Aveiro, quando eu era ainda jogador do Beira-Mar»,
disse Eusébio mais tarde.
Manuel José, treinador do Al-Ahly, jogou ao lado de Eusébio no
Benfica em 1968, e no Beira-Mar em 1977. O ex-jogador não se lembra do
livre em Aveiro mas recorda um episódio caricato com Eusébio, na
Venezuela.
«O único livre que me lembro dele foi na Venezuela. Nós, Beira-Mar,
fomos jogar três jogos à Venezuela onde defrontámos o Alianza de Lima
do Peru, que era 80 ou 90 por cento da seleção do Peru, e eles tinham
acabado de ganhar num torneio com as melhores equipas da América do Sul.
Quando entrei no campo olhei para as balizas e reparei que eram mais
baixas, aquilo não tem 2,44 metros disse para mim próprio, e fui lá
confirmar, e realmente não tinham a medida. Então fui à outra baliza e
era a mesma coisa. Durante o jogo, há um livre contra o Alianza. O
Eusébio tinha uma coisa fantástica, quando a bola passava a barreira o
Eusébio sabia que a bola ia entrar. Ele bateu na bola, saiu a correr, a
bola passou por cima da barreira e eu saí a correr atrás dele mas a
olhar sempre para trás. Era ele a festejar o golo mas a bola bateu na
barra, bateu no chão e o guarda-redes agarrou a bola. Então eu
disse-lhe: Ó Eusébio a bola não entrou. Ele respondeu-me: Como não
entrou? Eu disse-lhe: Não te lembras de eu dizer que a barra era mais
baixa? Mas acabamos por ganhar o jogo por 1-0 com um golo do Sousa»,
recordou Manuel José em declarações ao SAPO Desporto.
O SL Benfica defronta esta noite o Beira-Mar, no Municipal de
Aveiro, em jogo da 8.ª jornada do campeonato nacional. O histórico dos
confrontos entre os dois clubes dá clara vantagem ao Benfica que em 25
jogos, venceu 15, empatou oito e perdeu apenas dois.
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