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    terça-feira, 28 de setembro de 2010

    Francisco Ferreira

    Guimarães. 23 de Agosto de 1919-1986. Médio.
    Épocas no Benfica: 14 (38/52). 
    Jogos: 398. Golos: 34. Títulos: 4 (Campeonato Nacional) e 6 (Taça de Portugal).
    Outros clubes: FC Porto. 
    Internacionalizações: 25.



    Era ainda o tempo do “avante, avante p’lo Benfica, que uma aura triunfante glorifica”, estrofe do primeiro hino do clube, da autoria do presidente-atleta Félix Bermudez. Era já o tempo de Francisco Ferreira, que em Guimarães viu nascer o sol, no FC Porto começou a luzir, no Benfica ganhou a luz da fama. Esquerdino nato, vigília fazia na intermediária, tipo lugar-tenência. Não era nenhum assombro de técnica, nenhum estilista do jogo, nenhum abençoado de talento superior. Mas era alguém perfeito no domínio da posição, alguém com sonora voz de comando, alguém que lutava até à exaustão. Era um líder. Incontestado.

    Ficou órfão de pai com apenas quatro anos, sendo entregue aos cuidados de uma avó, enquanto a mãe viajou para S. Mamede de Infesta, perto do Porto, na esperança de recompor a vida. Francisco Ferreira tinha o coração a bater-lhe pelo futebol e perdia a noção do tempo nos jogos que disputava na feira do gado. As reprimendas eram tantas que, na puberdade, foi para o Porto, ao reencontro da mãe e… do futebol.

    No Campo da Constituição fervilhava-lhe o vicio da bola, destacando-se já nos infantis do FC Porto, clube pelo qual fez o habitual trajecto dos escalões juvenis. A sua índole de lutador, cedo cativou o técnico José Szabo, que o convocaria para a final do Campeonato de Portugal, edição 1936/37. Idilicamente, com apenas 17 anos, campeão se fez, depois do FC Porto ter ultrapassado o Sporting, num movimentado 3-2.

    No ano seguinte, refeito de uma moléstia física, reapareceu num confronto frente ao Benfica, que ficou conhecido pelo jogo das metralhadoras, tão pesado era o ambiente. O FC Porto necessitava do triunfo para ser campeão, à turma das águias bastava o empate. Houve igualdade a dois golos. De pronto, sabedor que o clube azul e branco pagava salários principescos para a época, atreveu-se a pedir 300 escudos por mês. Malandro lhe chamaria um dirigente portista. Foi contumélia. No FC Porto, que mais tarde deu o dito por não dito, jamais voltaria a jogar.


    Por essa altura, encontrava-se na capital nortenha um indefectível benfiquista, Idílio Nogueira de seu nome. Alertado, levou Francisco Ferreira para a clausura de uma quinta, em Valadares, de lá só saindo, quatro dias depois, com destino a Lisboa. Seguiu-se uma guerra burocrática, que um cheque de 13.500 escudos ajudou a pôr termo. Foi quanto o Benfica pagou ao FC Porto. No horizonte do bom Chico estavam 14 épocas pintadas em tom garrido.

    Ultrapassou o meio milhar de jogos, entre particulares e oficiais, rubricando 60 golos. Venceu quatro Campeonatos e seis Taças de Portugal. Com a saída de Francisco Albino, durante nove anos envergou, orgulhosamente, a braçadeira de capitão. Tal como na equipa nacional, que chegou a representar por 25 ocasiões, número muito estimável para a época.


    Ao serviço da Selecção, em Fevereiro de 1949, disputou um Itália-Portugal (4-1), na cidade de Génova. O comendador Novo, presidente do Torino, a melhor equipa transalpina nessa altura, ficou rendido à prestação de Francisco Ferreira. Tal como o Real Madrid, alguns anos antes, também o clube italiano solicitou os seus ofícios. O presidente do Torino deu-lhe o cartão de visita e apelou a um contacto ulterior. Quando a sua festa de homenagem começava a ganhar contornos, Francisco Ferreira telefonou ao líder do Torino, convidando o melhor conjunto europeu a participar no evento. O Benfica haveria de vencer 4-3. No dia seguinte ao jogo, Novo fez nova diligência para levar Francisco Ferreira até Itália. Infrutífera foi. Poucas horas depois, o avião despenhou-se sobre a basílica de Superga, naquela que foi uma das maiores tragédias do futebol mundial. Francisco Ferreira carregaria a cruz da desventura até ao fim da sua vida.

    A 28 de Maio de 1952, na inauguração do Estádio da Antas, participou na espectacular vitória do Benfica (8-2), sobre o FC Porto. Na cabina, anunciou que esse havia sido o seu derradeiro jogo. Só que foram tantos e tão veementes os pedidos para que alinhasse na final da Taça que acabou por concordar.

    No Jamor, numa partida diabólica, para muitos ainda a melhor de toda a história da competição, o Benfica bateu o Sporting 5-4, com o providencial golo de Rogério, ao lavar dos cestos. Francisco Ferreira ergueu o troféu.

    Vivia-se o presente. Para trás, ficava um dos mais marcantes recrutas do historial do clube do povo. Para o futuro, ficava o exemplo de um dos mais abnegados jogadores de sempre do Sport Lisboa e Benfica.

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