quarta-feira, 16 de novembro de 2011

José Luís Lopes Costa e Silva




Lisboa. 17 de Maio de 1958. Médio.
Épocas no Benfica: 10 (76/78 e 79/87). Jogos: 227. Golos: 20. 
Títulos: 5 (Campeonato Nacional), 6 (Taça de Portugal) e 2 (Supertaça).
Outros clubes: Marítimo e Ovarense. Internacionalizações: 4. 

Vivia-se já a era pós-Eusébio, Simões ou Jaime Graça. Mesmo assim tempo ainda em que o Benfica se arriscava a ser campeão, como havia sentenciado, com sentido profético, um antes, o treinador Mário Wilson. Na pré-época de 76/77, o britânico John Mortimore assumiu o comando técnico, apregoando a conquista do tricampeonato como objectivo.

O jovem José Luís, recém-promovido a sénior, com apenas 18 anos, fazia parte dos planos, depois de ser ter revelado nos patamares inferiores do clube. Ao lado do já genial Chalana, um ano mais novo, e do africano Alberto, lateral-esquerdo em ascensão, aí estava um trio disposto a dar substância à renovação da principal equipa benfiquista.

Para José Luís, a estreia, em Setúbal, ante o Vitória local, até nem correu bem. Era mesmo o quarto desaire nos cinco primeiros jogos do Nacional, versão 76/77. O Sporting foi soberano na primeira volta, orientado pelo bem conhecido Jimmy Hagan. Só que a recuperação do Benfica foi ganhando contornos de coisa séria e, muito antes do final da prova, fácil era divisar o campeão. Abria-se a colectânea de sucessos do promissor atleta.

Ao longo de dez temporadas consecutivas, José Luís arrebatou 13 títulos, distribuídos por cinco Campeonatos, seis Taças e duas Supertaças, justificando por quatro vezes a chamada à equipa nacional. Era uma espécie de jogador silencioso, que colocava a sua arte ao serviço do colectivo. Governava a direita ofensiva com imaginação e criatividade. Precioso no drible, seguro no passe, cirúrgico no centro. Era também um extremo sentinela, preocupado com o ataque antagonista.



Durante uma década não deixou de aperfeiçoar os seus predicados e minorar as suas insuficiências. Ultrapassou a marca dos 200 jogos na categoria de honra, não obstante a forte concorrência para o seu lugar. Carlos Manuel e Diamantino, sobretudo esses excelentes executantes, nunca lhe deram tréguas.

A 31 de Maio de 1987, despediu-se, ironicamente, com John Mortimore sentado no banco, o mesmo técnico que dez anos atrás o havia lançado à ribalta.

De José Luís ficou o perfume de um futebol inspirado, objectivo, cristalino. Com uma dedicatória aos escalões de formação do Benfica. Cresceu na casa onde nasceu, deu-lhe mais beleza e não menos encómios.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

José Henrique Marques




Arrentela. 18 de Maio de 1943. 
Guarda-redes.
Épocas no Benfica: 12 (66/77 e 78/79). Jogos: 298. 
Títulos: 8 (Campeonato Nacional) e 3 (Taça de Portugal).
Outros clubes: Arrentela e Atlético. Internacionalizações: 15. 


Se, na Margem Sul do Tejo, o alfobre Barreiro ganhou destaque ao conduzir farto contingente de jogadores para o Benfica, há também os exemplos da Moita, do Montijo e de Almada. Na mesma faixa geográfica, do Seixal, da popular Arrentela, haveria de chegar à Luz, pouco depois da gesta dos Magriços, um guarda-redes de nome José Henrique, que no Atlético Clube de Portugal tinha demonstrado surpreendente vocação. Cedo passou a Zé Gato, cuja significância andará muito perto de adjectivações como felino, ágil ou veloz. Ou talvez todas elas.

Viviam-se tempos de incerteza na baliza do Benfica. O melhor guarda-redes até então, Costa Pereira, estava no ocaso da carreira. Nascimento fez, durante alguns meses, a transição. José Henrique, por seu turno, não demorou a conquistar a confiança e logo partiu para uma duradoura etapa com o estatuto de intocável. Era já o dono das redes, quando participou na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em Londres, frente ao Manchester United. No prolongamento, coincidindo com o sobressalto benfiquista, sofreu três golos, mas nem por isso deixaria de seduzir a exigente imprensa britânica.

Em Portugal, rivalizava com Vítor Damas. O sportinguista era mais elegante, mais bonito a defender, dir-se-ia. Mais José Henrique revelou-se mais eficaz. E desalojou o seu concorrente da equipa nacional, cumprindo 15 chamadas, 14 das quais consecutivas, sendo de evidenciar a presença na Minicopa. Batido apenas foi a cinco minutos do final, por Jairzinho, no triunfo do Brasil sobre Portugal, com o superlotado Maracanã em desespero, perante a forma como se apunha ao ataque dos então campeões mundiais.

Eram os tempos da hegemonia absoluta do Benfica intramuros. Em 11 anos, venceu oito Campeonatos e três Taças de Portugal, chegando quase às três centenas de partidas oficiais. Nos últimos anos, teve Bento a morder-lhe os calcanhares. Não se acabrunhou, resistindo na fase inicial, mas acabando por ceder a defesa da baliza ao seu companheiro e amigo.

No Verão de 79, o Benfica prestou-lhe uma justa homenagem. De resto, ao serviço do clube se tem mantido, desenvolvendo trabalho muito apreciado no futebol juvenil. Por ele têm passado várias promessas e algumas certezas, como o caso de Moreira.

José Henrique foi sempre a imagem estampada da simplicidade. Parece que nunca soube quem foi, o que fez, quanto fez. Sabem-no, seguramente, os adeptos do Benfica.

sábado, 5 de novembro de 2011

Mês Outubro - Estatísticas Oficiais


O Porto, líder da Liga Zon Sagres à nona jornada, lidera quatro ítens da análise estatística: os passes certos (3666 num total de 4494, uma percentagem de 80 por cento), os passes para a frente (1175), os remates (180, média de 20 por jogo) e os golos (marcou 25 em nove partidas, numa excelente média de 2,78 por jornada).
O Benfica, que é segundo na tabela com os mesmos pontos do Porto (23), surge em primeiro também em quatro ítens: nos cantos (74, média de 8,2 por jornada), na percentagem de remates à baliza (47,1), na percentagem de golos por remate (17,6) e nos foras-de-jogo (38). O Sporting, que teve um excelente mês de Outubro, lidera nos passes (4588, média de 509,8 por jogo), nos cruzamentos (192), nos remates à baliza (66, uma média de 7,3 por jornada), nas bolas jogadas (5465), nos livres directos (147) e, ainda, nas faltas sofridas (169, quase 19 por partida).
Destaque para o Marítimo, que é líder em quatro itens: duelos, duelos aéreos, duelos no solo e bolas perdidas. O Feirense é primeiro na distribuição de cruzamentos em bola corrida, o Gil Vicente é a equipa com mais golos de penalty e com mais posse bola no seu meio-campo, o Nacional comanda nas recuperações de bola (1200).
A Liga Portugal, em parceria com as empresas WTvision e a Amisco, disponibiliza aos clubes um serviço de estatísticas que inclui, entre outros elementos, um software de análise para todos os jogos da Liga Zon Sagres. Os dados são recolhidos e trabalhados por uma equipa especializada que procede à sua análise e os fornece aos clubes.

José Augusto Pinto de Almeida




Barreiro. 13 de Abril de 1937. Avançado.
Épocas no Benfica: 11 (59/70). Jogos: 369. Golos: 174. 
Títulos: 8 (Campeonato Nacional), 3 (Taça de Portugal) e 2 (Taça dos Campeões).
Outros clubes: Barreirense. Internacionalizações: 45. 
Treinador do Benfica em 1969/1970. Títulos (conquistou uma Taça de Portugal).


A finta foi a melhor concepção da arte fecunda e sempre harmoniosa de José Augusto. Com uma leveza inimitável, cedo lhe chamaram o “Garrincha português”, rendido se confessava aquele jornalista parisiense do “L’Équipe”, Grabriel Hanot. Marcá-lo em cima constituía humilhação ou suicídio; marcá-lo à zona era requinte que caro se pagava. Ele que até sempre foi considerado medroso. “Essa é a ideia que se faz de um jogador estilista, que tem na técnica a sua principal arma; eu era assim – rápido, versátil e, para além disso, com grande inteligência de jogo” ou José Augusto numa síntese autobiográfica.

Imitar o pai constituiu, obstinação de infância do jovem nascido no desigual Barreiro, alfobre de tantos artífices da bola. Também o era Alexandre Almeida e mais seria se o impiedoso destino não lhe tivesse roubado a vida. Antes, porém, “o meu pai, quando soube que eu despertara para o futebol, ficou satisfeito. Nunca me proibiu de jogar. Tinha sempre um sorriso afável, um sorriso de pai, desejando ver o filho tornar-se um ídolo. Se calhar, ele sentia que já não poderia sê-lo”.



Com apenas 10 anos, José Augusto fez subir o pano, começando a frequentar o parque do jogos do Barreirense, sob a liderança de Armando Ferreira. Basquetebol jogaria também, revelava polivalência. Mais tarde, fizeram-lhe um ultimato e optou pelo futebol com carácter de exclusividade. Na posição de avançado-centro, foi chamado, por José do Carmo, para a turma nacional de juniores, que disputou o Torneio Internacional da UEFA da categoria, em terras transalpinas. No começo da temporada de 54/55, ainda no comando de ataque, catapultou-se à equipa principal, marcando presença frente ao Torreense, nas festa de Eduardo Reis. “Os que recordavam o meu pai disseram que o filho do Alexandre Almeida tinha honrado o seu nome”. Apenas um mês passado, o Barreirense acolheu o Sporting, era o compatrício Carlos Gomes titular da baliza verde-branca. Dois golos marcou José Augusto, melhor, três golos, que um foi escandalosamente anulado pelo árbitro, na sofrida vitória 3-2 (leonina). Mas nem por isso causou estorvo a que fosse lançado à ribalta o jovem executante. Mil contos pediram, então, pela sua carta. Era um coro de insistência, interpretado por Benfica, Sporting e FC Porto, pretextando José Augusto, que os outros emblemas, esses, cedo entenderam que ali não estava galo para as suas capoeiras.
 

Num dia quente de Agosto, mala na mão, estava na estação ferroviária de Santa Apolónia, com destino ao Porto. Eis que aparece, in extremis, Manuel da Luz Afonso, responsável máximo pelo futebol benfiquista. Ali, naquele momento, a orquestra vermelha haveria de ganhar um dos seus mais afamados solistas. Na cerimónia de apresentação, marcada para 25 de Agosto de 1959, receberia 130 contos, enquanto o Barreirense, que tinha caído à II Divisão, se contentava com 350. “Nessa altura, sempre pensei que só não iria para o Benfica caso o clube não me pretendesse contratar”. Afinal, era muito um caso de amor…

Uma semana depois, vestia pela primeira vez a camisola garrida, frente ao Oviedo (1-0), cuja baliza era ocupada pelo sempre presente Carlos Gomes, entretanto transferido para Espanha. E não muito mais tarde, na segunda ronda do Nacional, logo frente ao Sporting, marcaria o primeiro golo ao serviço do Benfica, num delicioso apontamento de calcanhar.

Na Luz, o extremo-direito José Augusto conquistou tudo o que havia para conquistar. Foram Campeonatos (oito), Taças (três), títulos europeus (dois). Foram mais honrarias. Foram gabos, muitos gabos. Foram 369 jogos e 174 golos. Foram 11 épocas magnéticas.


Magnifica rota protagonizou também na equipa das quinas. Foi 45 vezes internacional, durante uma década, sublinhando com três golos o contributo à epopeia do Mundial de 66. Conhecido em toda a Europa ou não fosse ele o único benfiquista, a par de Coluna e Cruz, a disputar cinco finais do Campeões, envergou por isso a camisola da FIFA. A 20 de Maio de 1964, em Copenhaga, nas comemorações das Bodas de Diamante da Federação Dinamarquesa; no mesmo ano, a 23 de Setembro, em Belgrado, numa partida de solidariedade para com as vitimas do terramoto de Skopje, com um golo apontado.


Quando abandonou a carreira de futebolista, ingressou no quadro técnico do Benfica. Mais tarde, substituiu o lendário Otto Glória, a tempo de vencer a Taça de Portugal, versão 69/70. Seleccionador nacional seria, por ocasião ma Minicopa, no Brasil, momento de elevada significância para o futebol nacional, através da conquista do segundo lugar na prova.

Actualmente, José Augusto é uma das glórias do clube com mais visitas às Casas do Benfica. São os seus outros jogos. Aos quais empresta também generosidade, classe e prestígio.